Correntes do Pensamento Geográfico (Escolas Geográficas)
A Geografia é uma ciência
que, como outra qualquer, está em constante processo de transformação. Desde
seu surgimento e sistematização, a ciência geográfica passou – e ainda passa –
por diferentes abordagens conforme suas diversas correntes.
Determinismo Ambiental
Teoria formulada no século XIX pelo geógrafo alemão
Friedrich Ratzel que fala das influências que as condições naturais exerceriam
sobre o ser humano, sustentando a tese de que o meio natural determinaria o
homem. Nesse sentido, os homens procurariam organizar o espaço para garantir a
manutenção da vida.
O maior sinal de perca de uma sociedade seria a perda
do território.
As afirmações de Ratzel estavam fortemente ligadas ao
momento histórico que vivia, durante a unificação da alemã. O expansionismo do
Império Alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia Otto von Bismarck
(1815-1898), foi legitimado pelas duas principais correntes de pensamento
ratzeliano, o determinismo geográfico e o espaço vital (espaço
necessário à sobrevivência de uma dada comunidade). A primeira explicaria a
superioridade de algumas raças - nesse caso, a alemã -, que naturalmente se
desenvolveriam mais do que outras, e a segunda justificaria a conquista de
novos territórios para suprir a maior demanda de recursos para seu desenvolvimento,
ou seja, ou expansionismo.
Os discípulos do determinismo foram além das
proposições ratzelianas, chegando a afirmar que o homem seria um produto do
meio. Defendiam que um meio natural mais hostil proporcionaria um maior nível
de desenvolvimento ao exigir um alto grau de organização social para suportar
todas as contrariedades impostas pelo meio. Ex: O inverno justificaria o
desenvolvimento das sociedades europeias, que não tiveram grandes dificuldades
em subjugar os povos tropicais, mais indolentes e atrasados. Essa ideia
justificou o expansionismo neocolonial na África e na Ásia entre o fim do
século XIX e o início do século XX. Pensamentos que, mais tarde, foram
aproveitadas pelos cientistas e políticos da Alemanha Nazista.
Possibilismo Geográfico
Teve origem na França, com Paul Vidal de la Blache.
Enquadrado no pensamento político dominante, num
momento em que a França tornou-se uma grande soberania, ele realizou estudos
regionais procurando provar que a natureza exercia influências sobre o homem,
mas que homem tinha possibilidades de modificar e de melhorar o meio, dando
origem ao possibilismo.
A natureza passou a ser considerada fornecedora de
possibilidades e o homem o principal agente geográfico.
Geografia Regional ou Método Regional
Representou a reafirmação de que os aspectos próprios
da Geografia eram o espaço e os lugares.
O método era comparar regiões, segundo critérios de
similaridade e diferenciação.
Os geógrafos regionais dedicaram-se à coleta de
informações descritivas sobre lugares, dividir a Terra em regiões.
As bases filosóficas foram desenvolvidas por Vidal de
La Blache e Richard Hartshorne. Hartshorne não utilizava o termo região: para
ele os espaços eram divididos em classes de área, nas quais os elementos mais
homogêneos determinariam cada classe, e assim as descontinuidades destes
trariam as divisões das áreas. Este pensmanto geográfico ficou conhecido como
método regional.
Geografia Pragmática (Nova Geografia,
Geografia Teorética ou Quantitativa)
Corrente de pensamento da década de 1950 que surgiu da
necessidade de exatidão, através de conceitos mais teóricos e apoiados em uma
explicação matemático-estatística.
As principais características dessa corrente
geográfica são:
-Todo o conhecimento apoia-se na experiência (empirismo);
-Deve existir uma linguagem comum entre todas as
ciências;
-Recusa de um dualismo científico entre as ciências
naturais e as ciências sociais.
-Maior rigor na aplicação da metodologia científica;
-O uso de técnicas estatísticas e matemáticas;
-A investigação científica e os seus resultados devem
ser expressos de uma forma clara, o que exige o uso da linguagem matemática e
da lógica.
Foi usada como um forte instrumento de poder estatal,
pois manipulava dados através de resultados estatísticos.
Predominou na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos,
principalmente na década de 1960 a meados de 1970. A partir da década de 1960,
a Geografia Pragmática começou a sofrer duras críticas. Uma das principais
críticas é o fato de não considerar as peculiaridades dos fenômenos, pois o
método matemático explica o que acontece em determinados momentos, mas não
explica os intervalos entre eles, além de apresentar dados considerando o
“todo” de forma homogênea, desconsiderando, portanto, as particularidades.
Geografia Crítica ou Geografia Marxista
A referência a uma geografia crítica é feita com muita
ênfase na obra "A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para
fazer a guerra", do francês Yves Lacoste.
Essa corrente de pensamento geográfico surgiu na
França, em 1970, e depois na Alemanha, Brasil, Itália, Espanha, Suíça, México e
outros países.
Ganhou mais força na Alemanha, Espanha, França e
Brasil, com um grande movimento de renovação da geografia na década de 80.
No Brasil, o grande nome da Geografia Crítica foi
Milton Santos, que publicou os primeiros trabalhos da nova escola nesse país.
A Geografia crítica estabelece o rompimento da
neutralidade no estudo da geografia e propõe engajamento e criticidade junto a
toda a conjuntura social, econômica e política do mundo. Estabelece também uma
leitura crítica frente aos problemas e interesses que envolvem as relações de
poder e pró-atividade frente as causas sociais, defendendo a diminuição das
disparidades sócio-econômicas e diferenças regionais. Defendia ainda a mudança
do ensino da geografia nas escolas, ao estabelecer uma educação que estimulasse
a inteligência e o espírito crítico.
O pensamento crítico na geografia significou,
principalmente, uma aproximação com os movimentos sociais, principalmente na
busca da ampliação dos direitos civis e sociais, como o acesso a educação de
boa qualidade, a moradia, pelo acesso à terra, o combate à pobreza, entre
outras temáticas.
Geografia Humanística ou Cultural
Tem como base os trabalhos realizados por Yi-Fu Tuan,
Anne Buttimer, Edward Relph e Mercer e Powell.
A Geografia Humanística ou Cultural procura valorizar
a experiência do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e
as maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares, ou seja, a
cultura dos grupos sociais.
Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe
uma visão do mundo, que se expressa através das suas atitudes e valores para
com o ambiente. É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu
espaço e o seu mundo, e nele se relaciona.
Os geógrafos culturais argumentam que sua abordagem
merece o rótulo de "humanística", pois estudam os aspectos do homem
que são mais distintamente humanos: significações, valores, metas e propósitos
(Entrikin, 1976).
O lugar é aquele em que o indivíduo se encontra
ambientado no qual está integrado, tem significância afetiva para uma pessoa ou
grupo de pessoas.
O espaço envolve um complexo de idéias. A percepção
visual, o tato, o movimento e o pensamento se combinam para dar o sentido
característico de espaço, possibilitando a capacidade para reconhecer e
estruturar a disposição dos objetos.
A integração espacial faz-se mais pela dimensão
afetiva que pela métrica. Estar junto, estar próximo, significa o relacionamento
afetivo com outra pessoa ou com outro lugar. Lugares e pessoas fisicamente
distantes podem estar afetivamente muito próximos.
O estudo do espaço é a análise dos sentimentos e
idéias espaciais das pessoas e grupos de pessoas. Valoriza-se o contexto
ambiental e os aspectos que redundam no encanto e na magia dos lugares, na sua
personalidade e distinção.
Geografia Ambiental
Ramo da geografia que descreve os aspectos espaciais
da interação entre humanos e o mundo natural. Requer o entendimento dos
aspectos tradicionais da geografia física e humana, assim como os modos que as
sociedades conceitualizam o ambiente.
Emergiu como um ponto de ligação entre a geografia
física e humana como resultado do aumento da especialização destes dois campos
de estudo.
Como a relação do homem com o ambiente tem mudado em
consequência da globalização e mudança tecnológica, uma nova aproximação é
necessária para entender esta relação dinâmica e mutável.
Exemplos de áreas de pesquisa em geografia ambiental
incluem administração de emergência, gestão ambiental, sustentabilidade e
ecologia política.
Questões para reflexão
01-Explique o que afirmava o Determinismo Ambiental de
Friedrich Ratzel.
02-Compare a Teoria da Evolução das Espécies ao
Determinismo Ambiental de Friedrich Ratzel.
03-Explique o conceito de Espaço Vital e o que ele
justificaria.
04-Quais as proposições defendidas pelos discípulos do
Determinismo Ambiental?
05-O que afirmava o possibilismo?
06-Cite um exemplo que justifica o que defendia o
possibilismo geográfico de Vidal de La Blache.
07-Ao que se dedicavam os geógrafos regionais?
08-De que surgiu a Geografia Pragmática (Nova
Geografia, Geografia Teorética ou Quantitativa)?
09-Quais as principais características da Geografia
Pragmática (Nova Geografia, Geografia Teorética ou Quantitativa)?
10-Pra que foi usado a Geografia Pragmática (Nova
Geografia, Geografia Teorética ou Quantitativa)?
11-O que estabelece, propõe e defende a geografia
crítica?
12-O que significou o pensamento crítico na Geografia?
13-A Geografia Humanística ou Cultural procura
valorizar o quê?
14-O que significa lugar e espaço para a Geografia
Cultural?
15-O que é o estudo do espeço para a Geografia
Cultural ou Humanística?
16-Explique o que é a Geografia Ambiental?
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