Técnicas de trabalho e tecnologias utilizadas na Amazônia e no Acre



Novas tecnologias para a dinamização da produção da borracha no Amazonas

O Brasil desfrutou da condição de principal produtor e exportador mundial de borracha vegetal até a metade do século passado, tornando-se importador dessa matéria-prima a partir de 1951 (Gonçalves e Fontes, 2009).
Os mesmos autores apresentam ainda uma produção estimada no ano de 2007 em 107,8 mil toneladas, para um consumo de 328,4 mil toneladas. Essa situação demonstra a grande deficiência enfrentada pela heveicultura nacional em atender a demanda da indústria brasileira.
De principal produtor e exportador dentro do próprio país, a região amazônica hoje detém apenas 2% de toda a produção brasileira (IBGE, 2011). Gasparotto et al. (1997) apontam o fungo Microcyclus ulei, causador do mal-das-folhas, como o agente limitador da produção e o principal responsável para que a atividade não seja desenvolvida com o mesmo vigor e importância de tempos de outrora, especificamente nas condições da Amazônia sempre úmida, região de predominância de ocorrência do mal-das-folhas.
A produção brasileira, por outro lado, não para de crescer, mas só o faz onde o mal-das-folhas não afeta a produção da seringueira, nas regiões ditas de escape da ação do fungo M. ulei, sobretudo nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e Bahia.
Há, no entanto, materiais genéticos desenvolvidos pela Embrapa Amazônia Ocidental, desde 1999 (Moraes e Moraes, 2008), obtidos de cruzamentos entre espécies diferentes de seringueira que conferem resistência aos danos causados pelo fungo na região amazônica. Isso pode garantir a esta região específica novamente a oportunidade de competir com o mercado brasileiro e internacional de borracha natural.

A produção de Borracha Natural no Estado do Amazonas

A revista Negócios da Amazônia (2011) estima que a atividade de produção de borracha natural, somente no Estado do Amazonas, envolve o trabalho de 23 mil famílias, com perspectiva de triplicar este número, reportando ainda se tratar de um evento de altíssimo alcance social e econômico, motivado pela introdução de um grande número de pessoas na economia local, com efeitos positivos na geração de renda, decorrente da criação de inúmeros empregos indiretos no Estado.
A referida revista informa, ainda, que se instalou em Manaus a maior indústria para pneus de motocicleta e bicicleta do país, com expectativa de consumir a partir do terceiro ano de instalação três mil toneladas de borracha, sendo, para tanto, necessário absorver também a produção de vizinhos como Rondônia, Roraima e Acre.
Esta indústria fatura anualmente R$ 7 bilhões e gera mais de 20 mil empregos diretos. Nesse contexto, o projeto teve como objetivo ampliar a produção da borracha natural em 20 municípios produtores do Amazonas por meio da extensão, pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica.
Por meio de estratégias de transferência de tecnologia, 20 técnicos extensionistas assistiram produtores ativos no interior do Estado.Com o trabalho de Assistência Técnica e Extensão Rural, as abordagens de trabalho foram voltadas para o estabelecimento de viveiros e plantios de novas áreas de seringais com as cultivares de seringueiras resistentes ao mal das folhas. Dessa forma buscou-se dar um passo inicial para tornar o Estado autossuficiente e novamente exportador de borracha natural, ao tempo que possibilitou alternativa para aumento da qualidade de vida dos produtores atendidos por meio das novas tecnologias empregadas.

Políticas Para Conservação da Região Amazônica


Na Amazônia, os grandes problemas são bem conhecidos. Desmatamento e mudanças climáticas, juntos, podem acabar com a maior floresta tropical do mundo. Atualmente, os pesquisadores acreditam que há dois pontos sem volta para a Amazônia: se a média do clima da região aumentar 4ºC, ou se o desmatamento chegar a 40% da floresta, a Amazônia passará por um processo de savanização. Trocar a floresta por savana não será nada agradável para a humanidade.
Perderíamos a habilidade da floresta de controlar o clima, distribuindo as chuvas pelo país – grande parte da chuva que cai no Centro-Sul do Brasil vem de lá. O país ficaria ainda mais quente e as crises de água mais recorrentes. Isso sem falar na perda de espécies raras e até mesmo desconhecidas. Quão perto estamos desses pontos sem volta? A Amazônia já está 1ºC mais quente, e o desmatamento acumulado chega a quase 20%.
Segundo o estudo, a Amazônia chegou a esse estado por um conflito entre os dois modelos de políticas para a conservação da região. O primeiro é isolar áreas de florestas com a criação de áreas protegidas onde não são permitidas atividades econômicas. O segundo modelo é a intensificação da agricultura nas áreas já desmatadas, para que as atividades econômicas não avancem sobre a floresta.
Esses modelos não estão dando conta do problema. "Por um lado, é difícil colocar tudo em unidades de conservação. Por outro, a agropecuária continua se expandindo com baixa tecnologia, mesmo quando há intensificação. Se o debate continuar assim, a floresta vai desaparecer ou ficar completamente recortada e isolada, como acontece hoje com a Mata Atlântica", diz o climatologista Carlos Nobre, um dos autores do estudo. "Nós chegamos à conclusão de que os dois modelos são inviáveis. A única solução é a Amazônia ter uma atividade econômica muito mais rentável do que a pecuária."
É aí que entra a revolução tecnológica que os autores do estudo estão propondo. Nobre conta que, como cientista, seu papel principal é avaliar os riscos do aquecimento global e desmatamento. Desta vez, ele quis dar um passo além e juntar a visão do cientista com a de empreendedores que estão se aventurando com as tecnologias da chamada "quarta revolução industrial" para trazer inovação e sustentabilidade para a Amazônia.
Juan Carlos Castilla-Rubio é um desses empreendedores, presidente da Space Times Ventures, uma empresa que se dedica a incubar projetos e startups. A ideia é fomentar um novo tipo de desenvolvimento econômico na Amazônia. "Nós podemos usar artigos de biodiversidade para poder, efetivamente, criar novos produtos, novos mercados com grande potencial econômico para a região amazônica", diz Castilla-Rubio.

Inovação Tecnológica na Amazônia


Historicamente, as revoluções industriais estão associadas com a introdução de uma nova e potente tecnologia. A primeira foi a máquina a vapor, seguida pela energia elétrica, e mais recentemente a internet.
A quarta revolução industrial virá da mistura de três grandes áreas promissoras: a de tecnologias digitais, como a inteligência artificial e a robótica; a de biotecnologia; e a de materiais avançados, como os criados por nanotecnologia ou pela internet das coisas.
Como a Amazônia entra nessa revolução industrial? Pelos ativos de sua biodiversidade. Identificando espécies de plantas, suas moléculas ou comportamentos, é possível "copiar" técnicas desenvolvidas pela natureza há milhões de anos. Por exemplo, há trabalhos para desenvolver um robô aquático inspirado no movimento dos peixes dos rios amazônicos. Ao imitar o movimento dos peixes, o robô consegue economizar energia e causa um impacto ambiental menor.
Outro exemplo é uma rã, descoberta na Amazônia, que tem em sua saliva uma espuma que absorve gás carbônico (CO2). Essa rã pode inspirar a criação de novos componentes bioquímicos essenciais na tarefa de reduzir gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global.
Mas nem tudo está tão distante assim. Já existe, hoje, biotecnologia para um grande impulso de inovação em alguns setores, como o de cosméticos e fármacos. E há pelo menos um grande exemplo que prova que a floresta pode nos brindar com um mercado bilionário e um produto delicioso: o açaí. Um produto milenarmente consumido na Amazônia se tornou, hoje, um produto alimentício que preencheu um nicho mundial.
Encontra-se açaí como alimento ou suplemento alimentar em praticamente todo o país, e o produto é exportado da Amazônia para diversos países mundo afora. O açaí é hoje a terceira indústria de produtos naturais da Amazônia, perdendo apenas para madeira tropical e carne.
Ao mesmo tempo, o açaí é mais produtivo, por hectare, do que a pecuária amazônica, e não degrada a floresta. O estudo sugere que, se mais produtos da floresta forem disseminados como o açaí, e se for possível dar escala de mercado a esses produtos, será possível criar uma economia três vezes maior do que a madeira e a pecuária.


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