DESIGUALDADES SOCIAIS NO BRASIL
A desigualdade social é a diferença existente entre as
diferentes classes sociais, levando-se em conta fatores econômicos,
educacionais e culturais.
A desigualdade social é a diferença existente entre as
classes sociais ou castas dominantes e as classes sociais ou castas dominadas.
Ao longo dos tempos, os sistemas econômicos e políticos das cidades foram
criando mecanismos de distinção entre as pessoas. Nas chamadas sociedades
estratificadas, esses mecanismos são as divisões de castas, como os nobres na
Europa feudal e as castas indianas, predominantes como sistema de distinção até
o século XX. Os principais sistemas de estratificação podem ser divididos em
quatro grupos diferentes:
escravidão,
castas, estamentos e classe
Desigualdade social é um mal que afeta todo o mundo, em
especial os países que ainda encontram-se em vias de desenvolvimento. A
desigualdade pode ser medida por faixas de renda, em que são consideradas as
médias dos mais ricos em comparação às dos mais pobres. Também podem ser
utilizados, como dados para o cálculo de desigualdade, fatores como o IDH, a
escolarização, o acesso à cultura e o acesso a serviços básicos — como saúde,
segurança, saneamento etc.
A
renda, por ela mesma, não garante que os dados de desigualdade sejam plenamente
verificados, pois a qualidade de vida pode, em alguns casos, independer dela.
Porém, em geral, qualidade de vida e renda caminham juntas. Foi pensando nisso
que o estatístico italiano Corrado Gini criou, em 1912, o índice ou coeficiente
de Gini, uma fórmula que permite a classificação da desigualdade social. O
índice varia de 0 a 1, sendo 0 a condição perfeita, onde não há desigualdade
social, e 1 o maior índice possível de desigualdade. O índice de Gini é medido
com base na renda.
Desigualdade social e ideologia
Há uma
ideologização antiga da desigualdade social que, em geral, tenta justificar ou
explicar o domínio de certas classes sobre outras. No século XVII, Jacques
Bossuet afirmava que os reis tinham o direito divino de
Herbert Spencer,
sociólogo fundador da teoria chamada darwinismo social, foi um defensor de uma
ideologia que explicava a desigualdade, mas entre diferentes sociedades.
Segundo o teórico, a miséria enfrentada por povos que habitavam os continentes
do sul era explicada pelo baixo desenvolvimento intelectual e genético desses
povos, em contraposição aos brancos europeus, que, segundo a sua teoria, eram
superiores.
Extremamente
racista e etnocêntrica, essa teoria não explicava o real motivo da miséria
encontrada na África, na América do Sul e em parte do Oriente: a exploração
europeia por meio do colonialismo e do imperialismo. Os países que foram
sumariamente explorados, durante séculos, são os que apresentam, hoje, os
maiores índices de desigualdade social, além da miséria, que geralmente os
acompanha.
Em A
ideologia alemã, Karl Marx aponta que há uma ideologia por trás do
sistema capitalista que visa a manter em ordem o que está em curso: a
exploração da classe trabalhadora pela burguesia.
Segundo
o teórico do socialismo, a ideologia é um conjunto de normas, ideias, leis e
símbolos criados para manter a exploração do trabalhador pela burguesia. O
monopólio da informação, a educação, o sistema judiciário e toda a cadeia de
produção concentrada nas mãos da burguesia comporiam tanto a infraestrutura
(estrutura material de produção) quanto a superestrutura que manteria a
ideologia, que é o fator que faz com que os trabalhadores aceitem ser
explorados.
Desigualdade Social para Karl Marx
Segundo
Marx, a origem da desigualdade estava na relação desigual de forças em que a
burguesia, mais forte e dona dos meios de produção, explorava o trabalho do
proletariado, classe social mais fraca e dona apenas de sua força de trabalho,
expropriada pela burguesia.
Há um
abismo social imenso entre as duas classes, e essa relação era ainda mais
nítida na atividade fabril inglesa do século XIX, em que não havia direitos
trabalhistas, como salário mínimo, previdência ou jornada regular de trabalho.
Os trabalhadores das fábricas enfrentavam jornadas de até 16 horas diárias,
todos os dias da semana, sem pagamento fixo, e ficavam à mercê dos burgueses.
O que
se via na Inglaterra, e que Marx observou para escrever O capital, era um
sistema extremamente desigual, no qual uma pequena parcela da população tinha
muito, e a maior parte da população urbana não tinha sequer o básico.
Amparado
por suas observações sociológicas, baseadas no método materialista histórico, e
por um ideal socialista já existente (chamado, hoje, de socialismo utópico),
Marx desenvolveu o socialismo científico, o qual expõe a desigualdade e propõe
como solução a revolução do proletariado, que seria a tomada do poder, da
infraestrutura e da superestrutura por parte dos trabalhadores, implantando uma
ditadura do proletariado que deveria extinguir as classes sociais por meio da
socialização dos meios de produção e do fim da propriedade privada.
Esse
momento inicial seria chamado, por Marx, de socialismo. A forma perfeita desse
sistema, que na teoria marxista viria depois de um longo tempo de ditadura do
proletariado, seria o comunismo, em que a propriedade privada não existiria
mais e as classes sociais seriam extintas.
Para Marx, o fim das classes sociais e da exploração do proletariado somente ocorreria pela revolução do proletariado.
Como acabar com a desigualdade social?
A
perspectiva revolucionária marxista compõe uma visão radical que intentaria
acabar de vez com a desigualdade. Hoje existem outras visões menos
revolucionárias e menos radicais que procuram reduzir as desigualdades sociais
para melhorar as condições de vida das pessoas, porém, sem implodir o
capitalismo.
Uma dessas vertentes é a social-democracia, a qual se desvia do socialismo científico por, justamente, manter um sistema político democrata republicano e certo nível de liberdade econômica. Essa corrente também se esquiva do liberalismo, pois intervém, até certo ponto, no funcionamento econômico e propõe políticas de garantia do bem-estar social. As medidas de elevação do bem-estar social incluem:
v acesso à saúde e educação de qualidade para todos;
v emprego e assistência momentânea para aqueles que estão fora do mercado de trabalho;
v garantia da previdência social e dos direitos trabalhistas.
Os
países nórdicos são referência em social-democracia contemporânea, pois
desenvolvem um tipo de capitalismo voltado para o bem-estar da população.
Nesses países, o capitalismo continua funcionando e a propriedade privada
continua existindo. No entanto, há uma renda média muito parecida entre todas
as profissões, e poucas são mais ou menos remuneradas que a faixa média. A
formação técnica, por ser tão importante quanto, é tão estimulada quanto a
educação superior. Esses países são os que carregam consigo os maiores IDHs do
mundo.
A educação
também é prioridade no modelo social-democrata nórdico, pois ela é um signo de
redução da pobreza e da desigualdade social. Na Finlândia, país referência em
educação para o mundo, todas as escolas primárias e secundárias são estatais e
gratuitas, sendo vetada, desde a década de 1990, a abertura e manutenção de
estabelecimentos de ensino básico particulares.
Nessas instituições, as crianças e adolescentes têm acesso a uma educação de tempo integral, mas com um currículo diversificado e abrangente que leva em consideração a importância de abordagens que considerem não somente o ensino das várias ciências e das áreas do conhecimento, mas também aspectos da vida prática e cotidiana.
Dados sobre a desigualdade social no
Brasil
Do lado esquerdo, há parte da favela de Paraisópolis; do lado direito, há um dos condomínios de luxo da região do Morumbi, em São Paulo
A
imagem ao lado é um ícone da desigualdade social no Brasil. Aqui, assim como em
vários outros países em desenvolvimento no mundo, há um abismo imenso entre as
extremas classes sociais.
No
lado esquerdo da imagem, vemos Paraisópolis, um bairro favelizado de São Paulo.
Paraisópolis tem um total de 50% de moradias irregulares, de cada dez
habitantes do local, apenas 2,3 ocupam empregos formais. O local ocupa a 79ª
posição no ranking paulista de bairros com espaços culturais e possui uma taxa
de gravidez na adolescência de 11,45 por cem mil habitantes. A expectativa
média de vida no distrito de Vila Andrade, região em que se localiza o bairro, é
de 65,56 anos.
A
região de Morumbi mantém dados parecidos com de outros bairros nobres da
capital paulista: alta taxa de empregabilidade formal e alta renda familiar;
expectativa de vida que passa dos 80 anos de idade; a taxa de gravidez precoce
está abaixo de 2 para cada cem mil habitantes; e, fora das zonas residenciais,
existem diversos espaços culturais, ou as pessoas que lá moram deslocam-se até
as regiões centrais para acessarem cinemas, teatros e museus, por exemplo.
Essa
configuração socioeconômica e espacial é um fator marcante das cidades
brasileiras. Em todas as cidades, umas mais e outras menos, há desigualdade
social. Pesquisa do Ipea aponta que o Brasil apresenta desigualdade total de
renda de 51,5%, estando à frente de países como Estados Unidos, Alemanha e
Grã-Bretanhaii. Em nosso país, mais de 27% da renda está nas mãos de apenas 1%
da população.
Segundo
o economista francês Thomas Piketty, em pesquisa que levantou dados
socioeconômicos de vários países, o Brasil tem mais renda concentrada nas mãos
de poucas pessoas que os grandes países árabes, onde o 1% de bilionários mais
ricos representa apenas 26% da renda localiii. Em 2015, o coeficiente de Gini
brasileiro foi marcado em 0,515, deixando o nosso país no 10º lugar do ranking
dos mais desiguais do mundoiv, sendo que o 1º lugar é ocupado pela África do
Sul.
O
Brasil é um país subdesenvolvido e que ainda possui uma significativa
quantidade de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Praticamente
todos os municípios brasileiros, principalmente as periferias dos grandes
centros metropolitanos, contam com pessoas abaixo da linha da pobreza.
As
pessoas consideradas em situação de extrema pobreza são assim classificadas de
acordo com critérios estabelecidos por organismos internacionais:
v O
cálculo adotado pelo Brasil em 2011 define extrema pobreza como aquela em que o
indivíduo recebe menos de 70 reais mensais, cerca de 2,3 reais por dia.
v Segundo
a ONU e o Banco Mundial, as pessoas em situação de extrema pobreza são aquelas
que vivem com menos de 1,25 dólar por dia.
v Os
critérios adotados pelo Governo brasileiro, ONU e Banco Mundial são muito
distintos. Se adotada a medida internacional, teríamos no Brasil um número
muito maior de pessoas classificadas em situação de extrema pobreza.
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