Conflitos Mundiais recentes
Segundo a ONU, existem atualmente 30 regiões do mundo com a
presença de conflitos armados. A maior parte destes conflitos envolve disputas
por território e inclui, dentre as motivações, diferenças étnicas, religiosas e
o controle de recursos naturais. Para além dos conflitos em andamento, existem
ainda zonas de grande tensão geopolítica, como é o caso da Coreia do Norte e do
Irã. Outros casos incluem a presença de movimentos separatistas de intensidade
variável, mas que criam instabilidades políticas e econômicas regionais, como
os casos do Quebec (Canadá), País Basco e Catalunha (Espanha) e Irlanda do
Norte.
Bolívia
A Bolívia é um dos países mais politicamente instáveis da
América Latina, tendo enfrentado, até hoje, 193 golpes de Estado. Desde o
início de seu mandato, o governo do presidente Juan Evo Morales Ayma (do
partido Movimento ao Socialismo) impôs grandes perdas aos departamentos
(estados) mais ricos do país, principalmente ao promulgar uma lei que
federalizou a receita advinda da exploração das reservas de gás.
Em 2008, em um processo de crescente tensão política, os
departamentos de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando (que, juntos, possuem mais de
80% das reservas de gás do país) passaram a exigir maior
autonomia em relação ao governo federal, defendendo mudanças na distribuição
dos impostos e na escolha de seus governadores. A crise se intensificou em
consequência de três fatores:
Ø interferência
do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em favor de Evo Morales;
Ø acusações
do governo boliviano contra os EUA, alegando que os separatistas recebiam apoio
da diplomacia norte-americana (o embaixador norte-americano
chegou a ser expulso do país);
Ø realização de referendos (sem apoio legal),
nos departamentos citados acima, com o objetivo de aprovar constituições
autonomistas.
Depois de embates violentos em algumas províncias - o país
esteve à beira de uma guerra civil -, opositores e governo concordaram em
iniciar conversações, graças, em grande parte, à interferência da diplomacia
brasileira.
A tentativa de intermediação
brasileira se deveu, principalmente, a três questões:
Ø evitar
um clima de instabilidade que causaria reflexos na fronteira da Bolívia com os
estados do Acre e de Rondônia, inclusive com a entrada de refugiados bolivianos
no Brasil;
Ø há
quase 15 mil cidadãos brasileiros vivendo em solo boliviano;
Ø impedir que o clima de violência comprometesse
o fornecimento de gás ao Brasil.
Uma nova Constituição foi aprovada na Bolívia, mas o país
segue com graves divisões internas.
Colômbia, Equador e Venezuela
Em 1º de março de
2008, tropas da Colômbia atacaram um acampamento do movimento guerrilheiro
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em uma região de fronteira,
mas dentro do território do Equador. Durante o ataque, mataram um dos
principais líderes das FARC, Raúl Reyes, e mais 16 guerrilheiros.
Em um primeiro momento, o presidente do Equador, Rafael Correa,
afirmou estar informado do ataque. Logo depois, contudo, declarou que o
exército colombiano havia entrado no Equador sem sua autorização, rompeu
relações diplomáticas com a Colômbia e enviou mais de 3 mil soldados à
fronteira.
A mudança de comportamento de Correa aparentemente ocorreu
sob influência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Este já se encontrava
em crise com o governo colombiano, desde que havia sido afastado das
negociações que a Colômbia mantinha com as FARC, com o intuito de firmar um
acordo humanitário para libertação dos reféns mantidos há anos pelos
guerrilheiros. Ao ser informado da morte dos guerrilheiros, Chávez proferiu
severas críticas ao presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e mobilizou dez
batalhões do exército na fronteira com esse país.
A crise se acirrou no dia 4 de março, quando a Colômbia
anunciou ter descoberto, nos computadores dos guerrilheiros mortos, provas de
que o Equador e a Venezuela mantêm vínculos estreitos com as FARC. Segundo o
diretor da Polícia da Colômbia, Óscar Naranjo, os documentos provariam: (a) que
a Venezuela, além de fornecer armas às FARC, já contribuíra com cerca de 300
milhões de dólares para ajudar os guerrilheiros; e (b) que o ministro da
Segurança Interna e Externa do Equador, Gustavo Larrea, havia demonstrado
interesse em oficializar as relações com as FARC.
Em meio a um clima de acusações e de iminência de guerra
entre os países, Álvaro Uribe declarou que não enviaria tropas às fronteiras do
Equador e da Venezuela, mas que apresentaria as provas encontradas à
Organização dos Estados Americanos (OEA) e à ONU, reiterando que os documentos
encontrados com os guerrilheiros "violam a normalidade internacional na
sua proibição aos países de proteger terroristas".
Em julho de 2009, o Exército colombiano apreendeu uma série
de lança-foguetes produzidos na Suécia em um dos acampamentos das FARC.
Consultada, a Suécia confirmou que os números de série das armas correspondem a
um lote vendido pela empresa Saab Bofors Dynamics ao Exército da Venezuela. O fato,
que fere todos os acordos internacionais, provocou uma nova crise entre os
países.
Rússia e Geórgia
A guerra entre a Rússia e a Geórgia, em agosto de 2008,
ocorreu em função do projeto separatista da Ossétia do Sul e da Abkházia, mas
está relacionada a problemas que datam da dissolução da União Soviética.
Antes do colapso do regime socialista, a região da Ossétia
do Sul havia declarado autonomia em relação à República Socialista Soviética da
Geórgia, aproximando-se da Rússia, que dominava a União Soviética. Com a
dissolução da URSS, em 1991, a Geórgia tornou-se uma república independente. A
Ossétia do Sul procurou seguir pelo mesmo caminho, proclamando sua
independência em relação à Geórgia. Disso resultou uma guerra entre a Geórgia e
a Ossétia do Sul que se estendeu até 1992. A Rússia intermediou a paz entre as
duas. A atuação russa, porém, estava condicionada por seus próprios interesses:
transformar em área de influência russa tanto a Ossétia do Sul quanto a própria
Geórgia.
A Geórgia, contudo, caminhava no sentido contrário às
ambições russas, particularmente a partir de 2004, com a eleição do presidente
Mikhail Saakashvili, que tentou levar o país à Otan (Organização do Tratado do
Atlântico Norte), além de se aproximar dos Estados Unidos, de modo a escapar ao
poderio russo. Em 2008, a Ossétia do Sul retomou suas pretensões separatistas.
Ao mesmo tempo, a tentativa georgiana de entrar para a Otan fez com que a
Rússia apoiasse a independência da Ossétia do Sul.
A reação da Geórgia foi atacar a Ossétia com artilharia e
foguetes. A Rússia, então, entrou na guerra. O conflito entre os países durou
alguns dias, até que os russos aceitaram o cessar-fogo negociado pelo
presidente da França, Nicolas Sarkozy. O clima de tensão, contudo, permanece.
Israel e a faixa de Gaza
Na passagem de 2008 para 2009 as Forças de Defesa de Israel
iniciaram uma ofensiva
contra a faixa de Gaza, território palestino dominado pelo grupo radical
islâmico Hamas. O
objetivo da operação era eliminar a capacidade do Hamas de atacar as cidades
israelenses próximas à fronteira.
Os bombardeios começaram oito dias depois do fim de uma trégua
de seis meses mediada pelo Egito, que não foi renovada em meio a acusações
mútuas de desrespeito aos termos do acordo. Na verdade, nenhum dos dois lados
cumpriu o acordo: foguetes continuaram a ser lançados de Gaza, atacando cidades
de Israel - e Israel não liberou o fluxo de mercadorias para a região, sob
bloqueio econômico e físico israelense desde meados de 2007. Na verdade, o
cenário foi agravado quando o Hamas derrotou o Fatah - partido do líder Yasser
Arafat, morto em 2004 - nas eleições palestinas em 2006. Diferente do rival, o
Hamas não reconhece o Estado de Israel e não aceita os acordos já firmados do
país com a ANP (Autoridade Nacional Palestina).
A ofensiva de Israel sobre a faixa de Gaza durou 22 dias,
provocando centenas de mortes.
China e Tibete
O isolamento
provocado pela altitude favoreceu o surgimento, no Tibete, de uma civilização
característica: no século 7, o país se converteu num reino lamaísta, seita
local do budismo, que definiria o caráter teocrático da estrutura política e econômica
do Estado tibetano. Depois de várias turbulências políticas, o Tibete foi um
país independente de 1911 a 1950, quando foi anexado à China comunista. De lá
para cá, manifestações do povo tibetano contra o domínio chinês se repetem
esporadicamente. Em 1959 ocorreu um grande levante, violentamente reprimido.
Em agosto de 2008, o movimento nacionalista do Tibete
voltou a protestar contra o domínio da China sobre a região. Os primeiros
protestos surgiram logo após a prisão de monges tibetanos que organizaram uma
passeata para marcar os 49 anos do grande levante contra o governo chinês. Em
seguida, milhares de pessoas também foram às ruas, reivindicando a
independência. Segundo observadores internacionais, o governo chinês reprimiu
violentamente as manifestações, provocando mais de 120 mortes.
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