Geopolítica dos BRICS
Em 2001, o economista norte-americano Jim O'Neil criou
expressão “BRIC” para designar o grupo dos principais países de economias
emergentes que teriam a função de, até 2050, exercerem os principais passos
para o crescimento da economia mundial: Brasil, Rússia, Índia e China.
Em 2006, esses países agruparam-se em um acordo
diplomático, tomando algumas medidas em conjunto, formando não um bloco
econômico, mas uma aproximação informal de cooperação internacional. Não
obstante, esses países incorporaram a África do Sul, principal economia do
continente africano, em 2011, transformando a expressão “BRIC” em “BRICS”.
As previsões econômicas realizadas sobre esses países
concretizaram-se antes do esperado. Já em 2010, a China ocupava o segundo posto
na economia mundial e o Brasil o sexto, algo previsto para acontecer somente em
2015. Além disso, Índia e Rússia também apresentaram bons crescimentos e devem
deixar as respectivas posições de nono e décimo lugares para avançarem ainda
mais no que diz respeito ao índice das maiores economias do mundo.
O resultado dos avanços desses países no campo econômico é
o fato de os BRICS serem responsáveis, atualmente, por quase 65% do crescimento
do PIB mundial nos últimos anos, o que lhes proporciona um valor geopolítico
cada vez mais avançado no cenário internacional. Alguns teóricos chegam a
afirmar que os BRICS são os novos atores da Ordem Mundial Multipolar, apesar de
tal afirmação ainda ser considerada precipitada, haja vista que esses países,
mesmo atuando em conjunto, ainda não possuem a força política, econômica e até
militar (com exceção da China) necessária para fazer frente a Estados Unidos e
União Europeia.
Em termos de atuação estratégica, os BRICS têm priorizado o
aumento de suas respectivas influências no continente africano, fato que se
consolidou com a própria inclusão da África do Sul no agrupamento. O destaque
vai para China e Brasil, que ampliam cada vez mais a expansão de suas empresas
estatais (no caso dos chineses) e privadas (no caso do Brasil, com destaque
para a Vale do Rio Doce) a fim de melhor explorar os recursos naturais
africanos.
Outro ponto de atuação é o atual processo de criação do
Banco dos BRICS, um organismo internacional que pretende articular uma
concorrência internacional direta contra as instituições financeiras que
surgiram em Bretton Woods (FMI e Banco Mundial). A ideia é a concessão de
empréstimos a países do sul subdesenvolvido do planeta a juros baixos e sem as
contrapartidas oferecidas pelos demais órgãos, geralmente vinculadas a
privatizações e medidas de austeridade econômica.
No entanto, é preciso analisar essa situação com certa
cautela. Primeiramente, nunca é demais lembrar que os membros do BRICS possuem,
em certa medida, interesses políticos e econômicos que, muitas vezes, não se
aglutinam. No plano econômico, China e Índia caracterizam-se pela exportação de
produtos industriais e tecnológicos, bem como pela importação em massa de
matérias-primas; Brasil, Rússia e África do Sul, por outro lado, exportam
basicamente grandes volumes de recursos minerais e agrícolas, além de importarem
tecnologias industriais. No plano político, a China e a Rússia geralmente
adotam posturas internacionais mais rígidas, enquanto os demais países se
postam de forma menos incisiva, com algumas poucas exceções.
Um exemplo disso foi a recente crise internacional
envolvendo a Síria e os Estados Unidos, em que os norte-americanos ameaçaram
invadir o território sírio. Enquanto China e Rússia reprovaram e coibiram no
plano diplomático a possível ação bélica – que não chegou a se estabelecer –,
Brasil, Índia e África do Sul isentaram-se de qualquer decisão, embora
condenassem verbalmente um eventual ataque estadunidense.
De qualquer forma, é possível concluir que os BRICS, assim
como outros países emergentes (como México, Coreia do Sul e outros), estejam
exercendo papéis cada vez mais significativos no plano internacional. Mas no
caso desse agrupamento, será preciso estabelecer uma maior coesão e coordenação
estratégicas, com articulações políticas mais sintonizadas para que eles possam
se consolidar, de fato, como uma nova ameaça à hegemonia das potências atuais
internacionais.
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