Evolução da agricultura e suas ténicas

 



A evolução da agricultura foi diretamente acompanhada da transformação do espaço geográfico e das técnicas que compõem as atividades humanas.

A prática da agricultura é uma das mais antigas atividades desenvolvidas pelos humanos. No Período Neolítico, a constituição das primeiras técnicas e materiais utilizados para o cultivo de plantas e confinamento de animais foi a principal causa para aquilo que se denominou como a sedentarização do ser humano, o que permitiu a sua moradia fixa em uma dada localidade, embora a coleta e a caça tenham convivido por muito tempo lado a lado da agricultura.

O desenvolvimento da agricultura, portanto, esteve diretamente associado à formação das primeiras civilizações, o que nos ajuda a entender a importância das técnicas e do meio técnico no processo de construção das sociedades e seus espaços geográficos. Nesse sentido, à medida que essas sociedades modernizaram suas técnicas e tecnologias, mais a evolução da agricultura conheceu os seus avanços.

Originalmente, a prática da agropecuária foi desenvolvida na proximidade de grandes rios, notadamente o Tigre e Eufrates, além do Nilo, o Ganges e outros. Não por coincidência, foram nessas localidades que surgiram as primeiras grandes civilizações que se teve notícia, pois a prática da agricultura permitiu o desenvolvimento do comércio graças à produção de excedente.

 

A revolução agrícola

 

Um dos momentos mais importantes do processo de evolução da agricultura ao longo da história foi, sem dúvidas, aquilo que ficou conhecido como a Revolução Agrícola. Podemos dizer que, com o passar do tempo, várias revoluções agrícolas sucederam-se, mas a principal delas ocorreu a partir da Revolução Industrial.

O processo de industrialização das sociedades permitiu a transformação do espaço geográfico no meio rural, o que ocorreu graças à inserção de maiores aparatos tecnológicos na produção agrícola, permitindo uma maior mecanização do campo. Essa transformação materializou-se a partir do fornecimento de insumos da indústria para a agricultura, tais como maquinários, fertilizantes e objetos técnicos em geral.

O desenvolvimento da revolução agrícola no mundo também esteve diretamente associado à expansão marítimo-colonial europeia, em que os povos europeus disseminaram as diferentes culturas pelo mundo por meio das plantations. No Brasil, o caso mais evidente foi a produção da cana-de-açúcar. Vale lembrar que essa interação entre colonos e colonizadores também contribuiu para a evolução agrícola, na medida em que técnicas antes pouco conhecidas passaram a ser aplicadas, a exemplo do terraceamento praticado tanto na China antiga quanto pelas civilizações pré-colombianas.

 

A Revolução Verde

 

No século XX, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, a evolução da agricultura conheceu um de seus patamares mais importantes, o que ficou conhecido como Revolução Verde. Trata-se, basicamente, de um conjunto de medidas e promoção de técnicas baseado na introdução de melhorias genéticas nas plantas e na evolução dos aparatos de produção agrícola para ampliar, sobretudo, a produção de alimentos.

A introdução das técnicas provenientes da revolução verde permitiu um aumento, em larga escala, da produção de grãos e cereais, diminuindo sensivelmente a necessidade por alimentos em várias regiões da Ásia, África e América Latina, muito embora a fome não tenha sido erradicada, uma vez que a sua existência não se deve somente à falta de alimentos. O impacto no mundo foi tão amplo que o agrônomo estadunidense Norman Borlaug, considerado o “pai” da Revolução Verde, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz no ano de 1990.

Embora a Revolução Verde seja bastante criticada pelos seus impactos ambientais e também pelo processo de concentração de terras que acompanhou a sua evolução, é inegável a sua importância para o desenvolvimento da agricultura no mundo. Além do mais, como extensão, ampliaram-se nas décadas posteriores as melhorias decorrentes da tecnologia no campo, como a biotecnologia e a introdução dos Sistemas de Informações Geográficas na linha de produção agropecuária, o que vem intensificando a elevação da produtividade.

Rotação de culturas

Rotação de culturas representa uma prática agrícola na qual ocorre a alternância planejada de culturas diferentes em uma mesma área em um dado espaço de tempo.

Rotação de culturas é uma técnica agrícola que alterna, de maneira ordenada e planejada, diferentes culturas em uma mesma área em um dado período. Essa técnica de plantio tem como objetivo a conservação do solo e a consequente redução de sua exaustão.

Nessa prática, por exemplo, uma espécie vegetal não é repetida na mesma área ao longo de um período estabelecido. É viável que se alternem espécies de sistemas radiculares (raízes) diferentes a fim de amenizar os efeitos de compactação do solo. As espécies escolhidas devem apresentar, além de vantagem comercial, um propósito de recuperação do solo.

 

Por que é importante fazer rotação de culturas?

A rotação de culturas é uma técnica de plantio aliada ao Sistema de Plantio Direto (SPD). Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no SPD, não são realizadas as etapas de preparo habitual de plantio, como aração (inversão das camadas do solo) e gradagem (rompimento dos torrões deixados pelo processo de aração como forma de aplanar o solo).

Por alternar os cultivos de maneira planejada e ordenada, a rotação de culturas reduz de forma eficiente os impactos ambientais causados pela monocultura (produção agrícola de apenas uma espécie), como a degradação física, química e biológica do solo e o desenvolvimento de pragas. Portanto, essa técnica de plantio, além de favorecer a conservação do solo, aumenta a produtividade e reduz a ocorrência de pragas.

 

Principais objetivos

Ø  Conservação do solo;

Ø  Melhoria e manutenção da fertilidade do solo;

Ø  Melhor aproveitamento do maquinário e da mão de obra;

Ø  Diminuição da incidência de pragas, doenças e plantas daninhas;

Ø  Aumento do teor de matéria orgânica no solo;

Ø  Estruturação e descompactação do solo;

Ø  Estabilização da produtividade das espécies cultivadas.

 

Benefícios

Ø  Produção diversificada de culturas;

Ø  Melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo;

Ø  Auxílio no controle e na redução de ocorrência de plantas daninhas, doenças e pragas;

Ø  Reposição da matéria orgânica;

Ø  Proteção do solo contra a ação de agentes climáticos, aumentando a estabilidade da produção;

Ø  Viabilização do SPD;

Ø  Aumento da produtividade.

 

Desvantagens

 

Ø  Difícil elaboração de planejamento estratégico que atenda aos objetivos.

Ø  Necessidade de maiores investimentos, especialmente em maquinário.

Ø  Mecanização dependente de um trabalho bem dirigido.

Ø  Dificuldade de créditos e de investimentos em culturas de menor expressão.

 

Rotação de Culturas x Monocultura

A monocultura favorece a exaustão do solo e é uma prática mais suscetível à ocorrência de pragas e de doenças.

O que é sucessão de culturas?

A sucessão de culturas é uma técnica agrícola na qual duas ou mais espécies são cultivadas em sequência em uma mesma área durante um determinado período (um ano, normalmente). Essa prática não leva em consideração a família botânica das espécies. Difere-se da rotação de culturas, pois esta alterna as espécies cultivadas ao passo que aquela cultiva em sequência.

A sucessão de culturas pode provocar degradação física, química e biológica do solo, acarretando queda da produtividade e favorecendo o desenvolvimento de plantas daninhas, pragas e doenças.

 

Seleção das espécies para o cultivo na rotação de culturas

As espécies cultiváveis que compõem o sistema de rotação de culturas são selecionadas segundo alguns critérios fundamentais:

Ø  Apresentar propósito comercial e de recuperação do solo.

Ø  Produzir fitomassa (massa dos seres vegetais que vivem na superfície do solo) suficiente para controlar os processos erosivos, diminuir as oscilações de temperatura e reduzir a perda de água pelo processo de evapotranspiração.

Ø  Proporcionar condições favoráveis ao solo a fim de diminuir sua suscetibilidade à ação de pragas, doenças e plantas daninhas.

Ø  Apresentar exigências nutricionais e aproveitamento nutritivo diferentes.

Ø  Ter suscetibilidades diferentes a pragas e doenças.

 

Por apresentarem grande capacidade de proteção do solo, as espécies mais indicadas são milho, soja, feijão, aveia e gramíneas.

 

Rotação de culturas e sustentabilidade

 

Rotação de culturas e sustentabilidade andam de mãos dadas em virtude dos inúmeros benefícios proporcionados por essa prática agrícola. Por alternar o cultivo de diferentes espécies em uma área, a rotação torna a terra mais produtiva e reaproveitável. Dessa forma, não há necessidade de utilizar novas áreas, o que leva à redução do desmatamento.

 

A prática também favorece à conservação do solo, já que o protege de processos de lixiviação e mantém sua umidade. Promove também a melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo, diminuindo sua exaustão e conservando seus nutrientes.

Em áreas onde há predomínio de monoculturas, é fundamental que seja praticada a rotação de culturas. Segundo o engenheiro agrônomo José Laércio Favarin, professor da USP, a rotação de culturas não deve ser praticada apenas como remediação, mas sim de maneira preventiva, buscando produzir com sustentabilidade.

 

Atividade

1.    A agricultura foi responsável por mudanças significativas nos padrões de fixação e distribuição das populações humanas. Que alteração nos fluxos de pessoas ocorreu com o advento da atividade agrícola?

 

(A) As pessoas passaram a migrar mais em busca de melhores solos para o cultivo.

(B) Dispersaram-se nos territórios para não ter que dividir a produção.

(C) Deixaram de ser nômades e passaram a ser sedentários (fixar-se em um determinado local).

(D) A caça, pesca e coleta garantiam o pleno sustento, estímulo para o aumento das migrações.

(E)  Intensificaram o nomadismo, uma vez que precisavam de sementes variadas.

 

Alternativa correta: letra C

A agricultura foi a principal responsável pelo fim do nomadismo (em que os seres humanos precisavam mudar constantemente para locais com disponibilidade de alimentos) e início do sedentarismo (modo de vida baseado no cultivo de plantas e domesticação de animais que garantia a fixação na terra).

 

2.    A respeito da primeira revolução agrícola ocorrida no século XIX, é correto afirmar que:

 

I.             O uso intensivo do solo, com ausência de práticas de conservação, foi uma das características desse período.

II.             Houve o aumento da produtividade, isto é, houve o aumento da produção sem o aumento da área de cultivo.

III.          Por não haver aumento da área plantada, essa revolução garantiu que o meio ambiente fosse preservado.

IV.          O avanço tecnológico do período permitiu que, em uma mesma área ocupada, houvesse um acréscimo na produção se comparada com a produção anterior.

 

Estão corretas as alternativas:

 

(A) I, II e III.

(B)  II, III e IV.

(C) Apenas a alternativa III.

(D) I, II e IV.

(E) Todas as alternativas.

 

Alternativa correta: letra D

Está incorreta a afirmativa III, pois a revolução agrícola que ocorreu a partir do século XIX não beneficiou o meio ambiente, pois havia um uso intenso do solo sem práticas de conservação.

 

3.    Alguns estudiosos afirmam que estamos passando por uma nova revolução agrícola. Essa afirmação tem origem no surgimento de um novo elemento na produção agrícola mundial. Qual é esse componente?

 

(A) os sistemas de satélite

(B) os transgênicos

(C) a agroecologia

(D) os agrotóxicos

(E) a digitalização da produção

 

Alternativa correta: letra B

Os chamados transgênicos (sementes geneticamente modificadas) seriam responsáveis por uma atual revolução. Embora as opiniões sobre o uso desses componentes sejam duais, é fato que a sua utilização tem provocado expressivas mudanças no processo produtivo.

4.    A revolução verde caracteriza-se, principalmente, pela industrialização e modernização tecnológica das atividades agropecuárias. Marque a alternativa que não representa uma característica da revolução verde.

 

(A)         Uso de técnicas agrícolas avançadas;

(B)         Emprego de agrotóxicos;

(C)         Predomínio de latifúndios monocultores;

(D)         Alteração genética de grãos e plantas;

(E)         Utilização de mão de obra abundante;

 

Alternativa correta: letra E

Com a revolução verde, houve um processo de substituição do homem pela máquina em vários tipos e segmentos de produção agropecuária.

5.    No Brasil, a Revolução Verde expandiu-se e consolidou-se a partir das décadas de 1970 e 1980. Entre as resultantes desse processo, uma das transformações mais notáveis no espaço geográfico brasileiro foi:

 

(A)  a ampliação dos sistemas coletivos no Rio Grande do Sul

(B) a devastação de boa parte do bioma Cerrado

(C) o fim do processo de êxodo rural

(D) o crescimento do mercado interno em face da queda das exportações

(E) a proliferação de empresas estatais no meio agrário.

 

Alternativa correta: letra B

A Revolução Verde no Brasil teve destacado impacto na expansão da fronteira agrícola para o interior do país, com a devastação das áreas de Cerrado no Centro-Oeste brasileiro. Além disso, destacam-se o enfraquecimento das propriedades familiares coletivas, o crescimento do êxodo rural, o aumento das exportações e o predomínio de propriedades privadas em forma de latifúndios monocultores.

 

6.    Assinale a opção que apresenta unicamente características da rotação de culturas:

 

(A)  Promove a aeração de camadas do solo, permitindo maior entrada de oxigênio e expulsão de gás carbônico.

(B) Constitui linhas que ligam pontos no terreno e que representam os desníveis do relevo para a produção agrícola, permitindo sua interpretação.

(C) É a técnica de cultivo de árvores em conjunto com culturas agrícolas.

(D)  É a técnica agrícola que alterna, anualmente, diferentes culturas numa mesma área, visando a diminuir a exaustão do solo.

(E) É uma técnica que possibilidade de intensificação de ocorrência de insetos do solo e nematoides.

Alternativa correta: letra D

a)    Incorreta. Essa técnica é chamada de aração do solo.

b)   Incorreta. Essa técnica é chamada de curvas de nível.

c)    Incorreta. Essa técnica é chamada de agrossilvicultura.

d)   Correta.

e)    Incorreta. Essa técnica não evita a intensificação de ocorrência de insetos.

 

7.    Rotação de culturas é uma técnica agrícola de conservação que visa a diminuir a exaustão do solo. Isso é feito trocando as culturas a cada novo plantio de forma que as necessidades de adubação sejam diferentes a cada ciclo. Consiste em alternar espécies vegetais numa mesma área agrícola. A rotação de culturas é vantajosa porque

 

(A) viabiliza a possibilidade de produção de vários produtos na mesma safra.

(B) diminui a longo e a médio prazo os gastos com recuperação de solo.

(C) garante ao agricultor maior lucratividade em curtíssimo prazo.

(D) aumenta a lucratividade do produtor por conta da qualidade do produto.

(E) Aumento potencial de ocorrência de erosão, causada pela desestruturação do solo.

 

Alternativa correta: letra B

 

Por diminuir a exaustão do solo e o desgaste provocado pela monocultura, a rotação de culturas diminui a longo e a médio prazo os gastos com recuperação do solo.

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