Espaços rurais e urbanos do Brasil

 

Os espaços urbano e rural inserem-se como diferentes expressões materializadas no espaço geográfico, compreendidas por suas distintas dinâmicas econômicas, culturais, técnicas e estruturais. Embora componham meios considerados distintos, suas inter-relações são bastante complexas. Por isso, muitas vezes é difícil separar ou compreender a especificidade de cada um desses conceitos.

O conceito de espaço urbano designa a área de elevado adensamento populacional com formação de habitações justapostas entre si, o que chamamos de cidade. Já o conceito de espaço rural refere-se ao conjunto de atividades primárias praticadas em áreas não ocupadas por cidades ou grandes adensamentos populacionais.

No entanto, para além dessa definição simples e introdutória, é interessante perceber que rural e urbano são, além de tudo, tipos diferentes de práticas cotidianas. Assim, podem existir práticas rurais no espaço das cidades ou práticas urbanas no espaço do campo. Por exemplo: um cultivo de hortaliças dentro do espaço de uma cidade (embora isso seja cada vez mais raro nos grandes centros urbanos) é um caso de prática rural no meio urbano. Da mesma forma, a existência de um hotel fazenda ou um resort em uma zona afastada da cidade é um exemplo de prática urbana no meio rural.

Uma das principais diferenças entre urbano e rural está, assim, nas práticas socioeconômicas. O espaço rural, como já dissemos, engloba predominantemente atividades vinculadas ao setor primário (extrativismo, agricultura e pecuária), ao passo que o espaço urbano costuma reunir atividades vinculadas ao setor secundário (indústria e produção de energia) e terciário (comércio e serviços).

Outra diferença entre urbano e rural está na amplitude dos respectivos conceitos. Em termos de escala, a abrangência espacial do meio rural é muito maior, pois ele reúne tantos as áreas transformadas e cultivadas (espaço agrário) pelo homem quanto o espaço natural, pouco transformado ou mantido totalmente sem intervenções antrópicas. Por outro lado, a cidade, embora possua uma maior dinâmica econômica, apresenta-se em espaços mais circunscritos, mesmo com o crescimento desordenado dos espaços urbanos na maioria dos países periféricos e emergentes.

Em termos de hierarquia econômica, podemos dizer que, originalmente, o campo exercia um papel preponderante sobre as cidades. Afinal, foi o desenvolvimento da agricultura e da pecuária que permitiu a formação das primeiras civilizações e o seu posterior desenvolvimento. No entanto, com o avanço da Revolução Industrial e as transformações técnicas por ela produzidas, o meio rural viu-se cada vez mais subordinado ao urbano, uma vez que as práticas agropecuárias e extrativistas passaram a depender cada vez mais das técnicas, tecnologias e conhecimentos produzidos nas cidades.

Atualmente, o urbano e o rural formam uma relação socioeconômica e até cultural bastante ampla, muitas vezes se apresentando de forma não coesa e profundamente marcada pelo avanço das técnicas e pelas transformações produzidas a partir dessa conjuntura. Nessa relação, o espaço geográfico estrutura-se em toda a sua complexidade e transforma-se em reflexo e condicionante das relações sociais e naturais, denunciando as marcas deixadas pelas práticas humanas no meio em que se estabelecem.

Processo de urbanização no território brasileiro

O processo de urbanização no território brasileiro iniciou-se, de maneira mais concreta, a partir do final do século XIX, com o início gradativo da industrialização no país. No entanto, foi após os anos 1930 que a presença das indústrias tornou-se mais intensiva e a urbanização começou a intensificar-se. A segunda metade do século XX serviu de incremento graças ao intenso êxodo rural ocasionado pela mecanização das atividades produtivas no meio rural, o que gerou um maior desemprego no campo e a grande leva de migrantes em direção às principais cidades do Brasil.

Urbanização por regiões do Brasil

A década de 1960 foi o período em que o Brasil, pela primeira vez, passou a ter uma população predominantemente urbana, ou seja, a maior parte dos habitantes concentrava-se nas cidades. Atualmente, mais de 80% dos habitantes do Brasil residem em cidades, sendo a maioria desses em grandes centros urbanos e capitais, tais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e outras. Afinal, além de um acelerado êxodo rural, a urbanização brasileira contou com um intensivo processo de metropolização — a concentração das populações nas grandes metrópoles.

Esse foi um dos motivos responsáveis pela desigualdade tanto em tamanho das cidades e número de habitantes quanto em níveis de avanço econômico e ofertas de infraestrutura no espaço urbano brasileiro. A região Sudeste, dessa forma, abrange a maior parte dos habitantes e possui as maiores taxas de urbanização, com destaque para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, que contam com mais de 90% de seus habitantes vivendo em cidades.

Por outro lado, a região Norte e algumas áreas da região Nordeste apresentam números mais modestos nesse sentido. Os estados menos urbanizados do Brasil são Pará, Maranhão e Piauí, enquanto outros apresentam números pouco maiores, mas com índices populacionais baixos, o que torna suas cidades menores em termos demográficos, a exemplo do Acre e de Roraima.

Outro exemplo de estado com pouca população e com elevada urbanização é Goiás, graças à grande quantidade de pessoas habitando a região metropolitana de Goiânia e o entorno do Distrito Federal. Assim como os dois estados do Sudeste acima mencionados, o território goiano é cerca de 90% composto por populações urbanas, mas o seu número total de habitantes é de apenas seis milhões e meio de pessoas aproximadamente, bem menos do que a capital paulista, que, sozinha, ultrapassa os onze milhões.

A densidade populacional mais elevada na região Sudeste deve-se às heranças econômicas e estruturais herdadas dos ciclos produtivos anteriores, sobretudo do auge do período cafeeiro da história da economia brasileira. Por esse motivo, é nessa região que se encontram as duas únicas cidades globais do país, São Paulo e Rio de Janeiro, que, juntas, formam uma megalópole, ponto de intensa aglomeração urbana com níveis internacionais de alcance produtivo.

Atrás das duas cidades globais estão as metrópoles nacionais, responsáveis por estabelecer articulações intensivas com praticamente todo o território nacional. São elas: Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Brasília e outras. Enquanto isso, há também as metrópoles regionais, com destaque para Campinas, Goiânia, Manaus, Florianópolis, entre outras.

Após os longos ciclos de urbanização, êxodo rural e metropolização vistos ao longo do século XX, o início do século XXI, sobretudo nessa segunda década, demarca um gradativo processo de descentralização, com o crescimento das metrópoles de médio porte e a desmetropolização — quando as cidades médias passam a receber uma maior carga de investimentos, indústrias, empregos e habitantes. No entanto, é errado pensar que as grandes metrópoles do país perderam a importância, pelo contrário, suas estruturas seguem modernizando-se e, de cidades industriais, elas lentamente vão se tornando centros burocráticos, concentrando a maior parte das sedes das grandes empresas nacionais e internacionais.

 

Atividade

 

1.    Sobre o espaço urbano brasileiro, assinale a alternativa correta:

 

(A) as regiões Sul e Nordeste, embora menos povoadas, apresentam as maiores taxas de urbanização.

(B) com exceção das cidades de Brasília, Goiânia e Cuiabá, o Centro-Oeste brasileiro apresenta uma espacialidade urbana quase nula.

(C)  a concentração de habitantes no Sudeste, resultando na formação de grandes cidades nessa região, emergiu como uma reprodução da concentração econômica do país.

(D) o espaço urbano brasileiro, embora não homogêneo, apresenta uma distribuição relativamente igualitária ao longo do território.

(E) o número de cidades brasileiras com mais de dez milhões de habitantes vem diminuindo em razão do processo de desmetropolização.

 

Alternativa correta: letra C

O Sudeste, mais povoado e urbanizado, assim o é em razão da histórica concentração produtiva e econômica do Brasil em relação a essa região.

2.    Dentre as diversas consequências do Êxodo rural para o Brasil, podemos citar:

 

(A)  a desaceleração do processo de urbanização.

(B) a aumento dos índices de desemprego no Brasil.

(C) o aumento da quantidade de trabalhadores rurais.

(D) a diminuição dos problemas agrários no campo.

(E) o aumento de propriedades rurais disponíveis para a venda.

 

Alternativa correta: letra B

Além do aceleramento do processo de urbanização, com a formação de favelas, o êxodo rural brasileiro contribuiu para o aumento do índice de desemprego brasileiro, pois os trabalhadores que saíam do campo para as cidades na maioria das vezes não tinham a qualificação profissional exigida para atuar nas indústrias e postos de trabalho na cidade, aumentando assim a quantidade de desempregados nos centros urbanos.

 

3.    Assinale a alternativa que apresenta uma característica da agricultura brasileira que provoca êxodo rural.

 

(A) Com a modernização da agricultura, tem diminuído o número de volantes, principalmente nas áreas canavieiras.

(B) A modernização da agricultura tem ampliado o número de empregos rurais.

(C) Os parceiros, arrendatários e pequenos produtores são os mais beneficiados pelo capital empregado na aquisição de máquinas, adubos e corretivos.

(D) A maioria da população rural não é proprietária da terra em que trabalha.

(E) A modernização da agricultura brasileira tem provocado a melhor distribuição da terra agrícola.

 

Alternativa correta: letra D

A maioria da população rural no Brasil não é proprietária da terra em que trabalha.

 

4.    O êxodo rural no Brasil foi mais intenso entre as décadas de 1960 e 1980, período em que também se acentuou o processo de urbanização no país. Dentre as principais causas do êxodo rural no Brasil, podemos destacar:

 

 

(A)  a política de governo implantada na ditadura militar, que incentivava a ida das pessoas para as cidades a fim de facilitar o controle social pelo Estado.

(B) a mecanização do campo, que substituiu a mão de obra humana por máquinas, forçando a migração do trabalhador do campo para as cidades.

(C) a grande quantidade de pragas na lavoura, que impossibilitava o cultivo de praticamente todos os tipos de gêneros agrícolas.

(D) a grande quantidade de eventos sociais nas cidades, que atraia os jovens para as grandes cidades e que acabavam preferindo morar nelas.

(E)  a grande quantidade de pessoas vivendo no campo, que diminuía a oferta de trabalhos disponíveis e incentivava a migração dos trabalhadores para as cidades em busca de trabalho.

Alternativa correta: letra B

Uma das principais causas da migração do campo para as cidades foi a mecanização do campo, ou seja, a introdução de máquinas no processo produtivo agrário que substituía o trabalhador rural, aumentando a produtividade por um valor que, ao longo do tempo, tornava-se menor do que manter um funcionário.

 

 

5.    São fatores que se associam à urbanização do Brasil ao longo do século XX:

 

I.             Industrialização tardia

II.            Mecanização do campo

III.          Políticas públicas demográficas

IV.          Metropolização

V.           Democratização fundiária

VI.          Isenção de impostos urbanos

 

Estão corretas as afirmativas:

 

(A)  I, II e V

(B) II, IV e VI

(C) III, IV e V

(D) I, III e VI

(E) I, II e IV

Alternativa correta: Letra E

A industrialização do país, tardiamente, intensificou a urbanização brasileira.

O processo de mecanização do campo resultou no êxodo rural e na consequente ida de pessoas para as cidades.

A urbanização do Brasil foi acompanhada, de certo modo, pela metropolização do país.

 

6.    Dos estudos sobre a urbanização no Brasil sabemos que:

 

(A) São Paulo e Rio de Janeiro funcionam como metrópoles nacionais, pois exercem influência sobre todo o território brasileiro.

(B) O crescimento urbano depende do crescimento rural.

(C) Não existe em nosso crescimento urbano o fenômeno da conurbação.

(D) Os movimentos pendulares não ocorrem em nossos centros urbanos.

(E) Se existe em nosso país o processo de conurbação, ele não é consequência do desenvolvimento industrial.

Alternativa correta: letra A

Pois as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro exercem grande influência econômica sobre todo o território brasileiro, concentram a maioria das sedes de grandes empresas nacionais e estrangeiras. Interferem também em importantes aspectos da vida cultural, científica e social do país.

7.    No Brasil, em decorrência do processo de urbanização, verificou-se uma intensa metropolização, da qual resultaram:

 

(A)  cidades médias, que se industrializaram após a abertura econômica da década de 1990, como Campinas e Ouro Preto.

(B) cidades mundiais, que receberam vultosos investimentos externos no início do século XXI, como Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

(C) megacidades dispersas pelo país, graças ao retorno de imigrantes, como Manaus, Goiânia e Curitiba.

(D) metrópoles nacionais, sedes do poder econômico e político do país, como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.

(E)  metrópoles regionais, que constituem a primeira megalópole do país, como Fortaleza, Recife e Salvador.

Alternativa correta: letra D

metrópoles nacionais, sedes do poder econômico e político do país, como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.

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